terça-feira, 13 de novembro de 2012

De certa forma, sentia que já não fazia sentido continuar aqui. Cada vez isso fazia mais sentido. No final do mês deixa o quarto que foi o seu refúgio, quarto de dormir e das insónias, escritório, atelier, incubadora de sonhos e até onde realizou alguns, como o início a sério da ilustração de moda, com algum tempo, com esse objectivo bem focado. Horas e horas a aprender, praticar, desenhar, pintar, ilustrar. Este último ano foi uma ano e tanto. Realizou bastantes coisas que planeava e sonhava há tanto. Investiu em materiais para utilizar diferentes técnicas, marcadores, aguarelas, guache, tinta da china ( que ainda não experimentou), pastel, carvão, aplicação de outros materiais ( ainda ideias), descobriu livros que já desejava há muito, os básicos para começar e alguns outros para inspirar. Tecidos, bocados de tecidos que conseguia arranjar em promoções, sempre com ideias na cabeça para concretizar. Agora já tinha algumas das ferramentas base, livros que ensinam a fazer, materiais que permitem passar as ideias para o papel e agora um projeto de moda ainda alinhavado na cabeça. Já tem o tecido, almofadas para fazer ombreiras talvez, giz de alfaiate, botões, um fecho invisível, forro e recentemente máquina de costura onde já fez as primeiras experiências, o manequim que se chama allegra.. Este ano foi arrebatador em termos de conhecimento, uma vontade de absorver tudo no menor tempo possível. Aquela sensação que já devia ter começado desde pequena. Este era o sonho dela desde pequena. Costurava para as bonecas, vestia-as. Na altura via as artes como hobby, um prazer. Nunca pensou sequer seguir por essa via. Nunca pensou muito nisso. Simplesmente foi andando ao sabor do vento, foi-se adaptando às circunstâncias e aos acontecimentos naturais da vida. E por qualquer razão que desconhece e que a vai preenchendo cada vez mais, voltou àquela linha invisível que perdeu há muitos anos. Por isso muitas vezes sente que não tem tempo, que o tempo não chega. por outro lado acha o tempo relativo. O que tem que ser será. Neste Verão frequentou um workshop de 1 semana em design de moda  e sentiu-se como nunca se tinha sentido. sentia que pertencia ali. aquilo era ela, fazia parte dela. Sentiu-se como um peixinho na água. Tantos anos....:) Por outro lado sente que vê as coisa de uma forma mais enriquecida. Sabe que se estudasse design de moda aos 18 anos, não iria aproveitar nem metade do que valoriza e aproveita agora. Os significados das coisas, a curiosidade e a visão seriam certamente diferentes.Assim vai conquistando devagar, selecionando, descobrindo pequenas coisas todos os dias. Isso alimenta-a. Agora sentia necessidade de outras vivências.O novelo desenrolou-se mais um pouco e ela tem que seguir a linha.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

cozinhar

Há uns anos para cá que cozinhar não lhe dava qualquer prazer. Cozinhava por obrigação. De preferência de forma rápida e fácil. E na maior parte das vezes, o que fazia até saía bem.
Hoje chegou a casa depois do trabalho e comeu qualquer coisa, porque tinha de comer.
Agora fez o jantar, peitos de frango com natas e cogumelos e arroz de forno. Fez uma salada de alface temperada com óleo de girassol, vinagre, sal e sementes de papoila. Amanhã repetia a dose, só variava na salada, salada de tomate temperada com azeite, vinagre, sal e oregãos. O jantar estava feito, mas ela não tinha fome para o comer. Ía esperar um pouco, à espera que a vontade voltasse.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

she is so lost in translation

Uma dor lancinante que a trespassa de uma ponta à outra com uma brutalidade que só o amor tem. Será isto o amor? Esta falta contida, escondida, reprimida que dói. Tanto. Daqui a um mês vai deixar de doer.Tem que deixar. Sentir reciprocidade até na falta dela? Sentir só. Ignorar. Este amor, Isto, enlouquece-a. Mais vale fugir disto a todo o custo.Lacerante. Vai corroendo lentamente. Pica. Espeta. Aperta o músculo que bombeia. Estrangula. O desejo estrangulado. A dor que não passa. O amor que não passa. Porquê? Depois de tantas tentativas, de tantas formas. Esquecer. palavra simples, mas difícil.O amor...Isto. Que rasga. Que mói. Que bate.Corrói. Não deixa viver. Só sofrer. Imagina um beijo dele. Um toque de raspão. Um abraço apertado. Juntar as almas. Ela deseja juntar as almas separadas sem rumo. Sem significado. Dois vultos que vagueiam por aí .Dois fios soltos.