quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Já não se lembrava de ver um amanhecer assim há muito tempo. O escuro a ficar claro. A percepção das cores a mudar. O azul claro quase eléctrico a contrastar com o verde das montanhas. Era lindo. Arrebatador. Quase que a desfazia.
Já não vinha aqui há muito tempo. Apesar de muitas vezes lhe apetecer escrever. Despejar pensamentos.
Tomou um comprimido para dormir. São 7h e 14 minutos. Esteve a trabalhar até às 5. Nem se apercebeu. Tem passado horas a fio em frente ao monitor. A trabalhar nos projectos dela. No bichinho que a vai alimentando. Os dias vão passando, às vezes nem se apercebe. Não sai muito. Só o suficiente. Lá fora não há nada para ver. Quase tudo está dentro desta caixinha. Os sítios que quer conhecer. Os países que quer visitar. Continua a enviar currículos e a sonhar com a nova aventura que há-de vir.
Sente as pessoas a despertar, os carros a sair. O mundo a acordar quando o dela está quase a adormecer.
Às vezes pensa nele e pensa em tudo o que viveu durante os dois anos que se passaram. Foi tão intenso e vazio ao mesmo tempo.
Às vezes vivia muito ligada ao passado. Deu por ela a pensar numa noite...há quase oito anos atrás, aqui neste sítio aonde regressou agora. Algumas imagens continuam vivas na cabeça dela. Recorda-se dele sentado na cama a olhar para baixo. A expressão dele, os gestos, a voz. Como se pode viver assim. Há coisas que batem demasiado. Até dói. Quer passar uma borracha. Começar de novo. Começar a viver. Mais. Sem olhar para trás. Sem se lembrar. O mundo interior dela era gigante comparado com o exterior, com o que os outros viam. Ela não se importava com isso. Nunca se importou. Era uma forma de estar. À sua maneira.
Ao mesmo tempo tinha a cabeça cheia de sonhos e objectivos. O que queria fazer. O que quer fazer. Como se o tempo, apesar de muito fosse tão pouco para tanta coisa.
Toca o sino a dizer que são 7 horas e trinta minutos. Aqui ouve-se muito o sino. Isso às vezes aflige-a. Nunca gostou de ouvir os sinos a tocar. Há quem aprecie.Ela não.
Fez-lhe bem escrever um pouco, sente os olhos a ficar cansados. Ela está cansada. Mais cedo ou mais tarde tem de curar isto. Quer fazer acupunctura e regressão. Sabe que isso a pode desbloquear deste desassossego constante. Um dia quem sabe.