segunda-feira, 4 de junho de 2012

Depois de uma noite em claro e de um dia sem sentido, rumou ao mar à procurar de respostas.

"Caminha pelo teu corpo um silêncio como uma aragem
a terra estende-se infinita nos teus passos
ao passares o horizonte serás o último
e partindo de mim avanças


caminha pelo teu corpo um silêncio como uma aragem
onde o lugar das palavras que esquecemos? se o nosso mapa foi o sol e as manhãs 
onde foi que nos perdemos?


caminha pelo teu corpo um silêncio como uma aragem
como um martírio triste como um homem cansado
como a morte ao fim da tarde como um rio
como um silêncio profundo a levar-te


caminha pelo teu corpo um silêncio como uma aragem
começam hoje os dias os meses os anos depois de ti
começa hoje a ser recordação apenas o quanto vivi
e partindo de mim avanças (...)"


Tens que partir de mim, é urgente.

"fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer."


Deixa-me ir de ti. Liberta-me, é urgente.

"(...) porque eu acordarei nos teus braços e não direi
 nem uma única palavra, nem o princípio de uma palavra, para não [estragar
a perfeição da felicidade.


o tempo, subitamente solto pelas ruas e pelos dias,
como a onda de uma tempestade a arrastar o mundo,
mostra-me o quanto te amei antes de te conhecer.
eram os teus olhos labirintos de água, terra, fogo, ar,
que eu amava quando te imaginava que amava. era a tua
a tua voz que dizia as palavras da vida. era o teu rosto.
 era a tua pele.antes de te conhecer, existirás nas árvores 
e nos montes e nas nuvens que olhava ao fim da tarde.
muito longe de mim, dentro de mim, eras tu a claridade.(...)"


José Luís Peixoto, A Criança em Ruínas

Peço-te, imploro-te, liberta-me.

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